Aproveite o cupom de desconto para assistir à produção
Considerada um dos maiores fluxos migratórios da história, a imigração italiana ocorrida no final do século 19 é o pano de fundo do documentário Legado Italiano. A produção contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Garibaldi, por meio da Garibaldi Film Commission e da Secretaria Municipal de Turismo.
Com cenários no Rio Grande do Sul (Serra Gaúcha e Vale do Caí) e no norte da Itália, Legado Italiano revisita os 145 anos da imigração italiana para a Serra Gaúcha e os inúmeros legados deixados ao longo desse tempo. Uma verdadeira colcha de retalhos formada, entre outros, por temas como a religiosidade, a música, a gastronomia, a arquitetura, a indústria, o talian e o vinho, abordados a partir dos relatos dos descendentes de imigrantes da região.
O filme está disponível no site www.legadoitaliano.com.br, ao valor de R$ 14,90. Com o cupom “TURISMOGARIBALDI”, o acesso fica por R$ 9,90 e a promoção é válida até o dia 20 de fevereiro. São oferecidas ferramentas de acessibilidade como closed caption, libras e audiodescrição. Dirigido por Marcia Monteiro, o documentário foi produzido pela Camisa Listrada, em coprodução com Globo Filmes, GloboNews e Celeiro Produções e distribuição da empresa gaúcha Lança Filmes.
Confira abaixo a entrevista com a jornalista, roteirista e produtora de arte Márcia Monteiro, que dirigiu o filme Legado Italiano.
Qual foi sua grande motivação, a “virada de chave” que fez você pensar “preciso fazer um documentário sobre a imigração italiana no Brasil”? Qual é a relação que você criou com a Serra Gaúcha e, especialmente, com Garibaldi?
Tudo começou com o encantamento pela região ainda em 2012. O vinho me conduziu nessa jornada. Foram várias idas e vindas a ponto de me perguntarem quando eu compraria uma casinha na região e eu pensava que já havia escolhido uma na Estrada do Sabor... Me apaixonei pela região, fiz amigos, me diverti no Bar do Joe, no Garibaldi Vintage, no Veraneio da Vindima, na Fenachamp... Aliás, estou com muita saudade.
Fui a Garibaldi integrando a equipe de Produção de Arte da novela Além do Tempo, que estreitou ainda mais os laços com a região. A ideia do filme Legado Italiano foi sendo construída à medida que eu me deparava com a riqueza cultural do lugar. Fiz também muita pesquisa no acervo do Museu e Arquivo Histórico de Garibaldi. Em 2016, após aprovação da coprodução com a Globo Filmes/GloboNews, o filme começa a tomar forma para contar essa história de superação que tanto respeito e admiro. Garibaldi é uma cidade encantadora, seu charmoso Centro Histórico, terra do primeiro espumante brasileiro e fruto da coragem de um homem que acreditou no seu sonho.
Uma questão que tenho observado em relação ao filme é que várias pessoas comentam que após assisti-lo têm vontade de conhecer a Serra Gaúcha... acredito que ele também desperte o interesse turístico pela região: o Brasil ainda não conhece o Brasil.
Legado Italiano é sua estreia como diretora. Qual é o seu maior desejo com a produção? Que tipo de legado você mesma pretende deixar para quem assiste o documentário?
Sim, o filme Legado Italiano é minha estreia como diretora. O meu desejo é que o filme possa ter uma carreira no Brasil e no exterior, que essa história de luta e transformação seja conhecida, pois os valores daqueles que chegaram aqui no final do século XIX eram preciosos e não podem cair no esquecimento. A ideia do mutirão, da religiosidade e a força do trabalho para construir uma vida digna.
Saber que essa história se tornou um filme é uma forma de eternizá-la, de deixá-la disponível para as futuras gerações de descendentes. Assim como essa história chegar à Itália e lá tomarem conhecimento dessa história de superação. Como diz a Laura Pasin, entrevistada do Vêneto, “aqueles que saíram deram condições de sobrevivência para os que ficaram”.
Sabemos que uma produção audiovisual demanda muito tempo, orçamento, deslocamento de uma equipe, além de todos os processos de produção e distribuição. Da concepção do roteiro até o “resultado” são anos de trabalho envolvidos. Nesse sentido, qual foi o maior desafio ao dirigir o filme?
Uma produção audiovisual realmente demanda tempo, no caso do Legado Italiano foram 5 anos, o filme tomou conta da minha vida. Um filme documentário já parte de um orçamento bastante restrito, acredito que o maior desafio foi a captação de recurso para realizá-lo. Mas, ao mesmo tempo que isso foi um problema, também se transformou em uma incrível experiência, pois pude perceber pessoas, prefeituras, empresas, entidades que acreditaram nessa história e fizeram o que podiam para me ajudar a realizá-lo...digo que ele foi fruto de um grande mutirão. E essa "corrente" também chegou à Itália, onde tive apoio nas regiões do Trentino, Veneto e Ligúria. Como roteirista tinha a necessidade de filmar na Itália após constatar o que chamo de "saudade geracional", nos depoimentos pude perceber que existe uma saudade da Itália que é passada de geração em geração.
Para quem é de origem italiana, o documentário mexe com muitos sentimentos, desde histórias que ouvimos dos nossos “nonos e nonas”, até costumes que herdamos. Você já tinha ligação com a história da imigração? Ao que você atribui a sensibilidade de conseguir narrar de forma histórica e, ao mesmo tempo, tão emotiva, a saga dos imigrantes italianos?
Eu sempre tive uma profunda admiração pela Itália, até porque eu trabalho como produtora de Arte e a Itália é referência como berço cultural, mas sobre a história da imigração italiana meu contato foi mesmo na Serra Gaúcha e principalmente após ler os livros do Remy Valduga (O Sonho de um Imigrante e Caçador de Caramujo). A leitura me deu condições de mergulhar no tempo e de alguma forma vivenciar essa grande epopeia. Você não imagina a minha emoção quando cheguei na Frazione Valduga, em Terragnolo, Trentino...um lugar parado no tempo, local de onde havia partido o antepassado do sr. Remy, parecia que o livro estava aberto na minha frente.
Eu amo História, acredito que olhar para o passado pode nos ajudar a entender e a melhorar o presente, assim, criei uma linha do tempo para narrar o filme com os fatos que considerei mais relevantes nessa história que completa 145 anos. A emoção ficou a cargo dos depoimentos verdadeiros e cheios de vivências, muitas vezes terminei entrevistas com lágrimas nos olhos, realmente emocionada. Devo confessar que foi muito difícil escolher as falas dos entrevistados, pois tinha vários depoimentos muito bons.
Em determinada parte do documentário, se fala como a imigração foi, de certa forma, também um plano de governo para controlar a população que, na época, enfrentava a fome e a miséria na Europa. Hoje, por diversos fatores, novas ondas de imigração ocorrem ao redor do mundo. Como você vê esses processos e que tipo de ensinamento podemos tirar do que já ocorreu antes?
Sim a imigração foi um plano entre os governos da Itália e do Brasil. A Itália estava recém-unificada, após vários anos de guerras, e a chegada da Revolução Industrial no país deixou muitas pessoas sem trabalho, sem condições de uma vida digna. A fome e até mesmo a morte eram uma realidade. Para sobreviver, era preciso partir.
No Brasil, com a Abolição da Escravatura eram necessários braços para atender às fazendas de café do oeste paulista e também o povoamento de terras virgens devolutas como é o caso da Serra Gaúcha. O problema da Itália podia ser resolvido e o do Brasil também, a imigração foi considerada o grande negócio do século XIX.
Temos um entrevistado no filme, o Guido Campagnolo, da região do Vêneto, que afirma que na Itália a história da imigração, considerada o maior êxodo da história, não é abordada nos livros, nas escolas. E ele cita que hoje, na Itália, crianças estão na escola ao lado de filhos de imigrantes e desconhecem a própria história do país e talvez até da própria família. Ter conhecimento desse tipo de fato histórico, com toda certeza, cria empatia com as pessoas que hoje estão passando pelo mesmo problema. A imigração continua. Nesse momento, em algum lugar do mundo, pessoas estão deixando suas casas, suas famílias, seus laços em busca de uma vida melhor.
Texto: Alexandra Ungaratto
Foto do navio: Acervo da Bibliothèque Nationale de France